Instituto do Trópico Subúmido
Revista destaca pesquisa
da Católica sobre jatobá
da Católica sobre jatobá
A revista "Terra da Gente", publicação ambientalista mensal já em seu terceiro ano, traz em sua 33ª edição, referente a janeiro deste ano, em seis páginas, uma reportagem sobre o jatobá, tendo como referência o trabalho realizado pela professora-pesquisadora e bióloga Aparecida de Fátima Oliveira Bozza, do Instituto do Trópico Subúmido da Universidade Católica de Goiás, com fotos do também professor-pesquisador do ITS, Ruy Bozza. A reportagem tem a seguinte íntegra:
"De como, no prazo duma hora só, careci de ir me vendo escorando rifle e alvejando, em quentes, em beira de mato e campo, em virada de espigão, descendo e subindo ramal de ladeirinhas pequenas, atrás de cerca, debaixo de cocho, trepado em jatobá e pequizeiro, deitado no azul duma laje grande..." Guimarães Rosa em "Grande Sertão:Veredas", 1956
Assim como Riobaldo Tatarana, personagem principal de Guimarães Rosa, no livro "Grande Sertão: Veredas", João Benassi, 43 anos, também trepou muito em pés de jatobá, na fazenda onde nasceu em Jundiai, interior de São Paulo. Aos 6 anos de idade, bem diferente do sertanista, a intenção do moleque paulista era apenas se divertir, correr descalço pelo mato e comer a polpa do fruto que grudava no céu da boca. "Adorava comer jatobá, lembro que além dos frutos caídos no chão, gostava de apanhar os do pé. Por isso, ainda em cima da árvore, costumava balançar perto do ouvido aquela vagem dura, de cor marrom-escura. Se fizesse barulho, o fruto estava maduro, pronto para ser quebrado com alguma pedra e devorado", lembra o atual produtor rural, que chegou a cair de uma árvore dessas em cima do telhado de um galinheiro. "Não me machuquei muito, mas foi um grande susto".
As estripulias de moleque são relembradas com um brilho no olhos e contadas aos filhos debaixo das mesmas árvores, que ainda embelezam o sítio de mais de 15 alqueires. São pelo menos 20 pés de jatobá nativo. "Sou apaixonado por essas árvores. Meu pai também era. Há 20 anos ele plantou mais umas 20 na fazenda", continua Benassi. "Sempre que posso, gosto de levar meus filhos para debaixo da sombra de um jatobá. João Pedro tem 8 anos e Ana Cecília, 10. Eles ficam admirados com o tamanho das árvores e com o formato dos frutos, mas nem querem saber de comer, e olha que já tentei".
Os frutos maduros caem e apodrecem no chão. Como é um dos maiores produtores de uva rosada do Brasil, Benassi até coleta e vende uma parte deles nas centrais de distribuição de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Curitiba. Mas têm pouca saída. Na opinião do produtor, o problema é o desconhecimento da maioria dos brasileiros: "Eu mesmo não sei como aproveitá-lo sem ser in natura, e isso porque fui criado debaixo dos pés de jatobá".
Ele tem toda razão. De acordo com a bióloga Aparecida de Fátima Oliveira Bozza, coordenadora do Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Universidade Católica de Goiás, são poucas as pessoas que conhecem o potencial alimentar e os valores nutricionais do jatobá. Desde 1994, ela pesquisa alternativas de aproveitamento dos frutos nativos do Cerrado. "Até agora já produzimos 14 alternativas alimentares: farinhas, bolachas, bolos, pães, doces, salgados, sequilhos, creme de leite, manjar, pão-de-queijo. O uso das espécies nativas pode ser uma alternativa econômica para o aproveitamento sustentado da região".
O jatobá é da família das leguminosas. São árvores grandes, com 5 a 40 metros de altura, dependendo da espécie. O gênero Hymenaea possui 14 espécies, 13 das quais se encontram distribuídas pela América Central, América do Sul e Índias Ocidentais. A outra espécie ocorre no Leste da África. No Brasil, a mais alta é o jatobá amazônico (H. courbaril) que ocorre em toda região amazônica e no Nordeste. Há outra espécie amazônica (H. parvifolia), de distribuição restrita ao baixo Amazonas. O menor jatobá é o do Cerrado (H. stigonocarpa). Já o jatobá-do-mato (H. stilbocarpa) ocorre em todo o Brasil Central, São Paulo e Mato Grosso do Sul. E existem ainda mais duas espécies na Mata Atlântica: H. altissima, que ocorre no Rio de Janeiro e São Paulo, e H. rubriflora, na Bahia e Espírito Santo.
Em todas as espécies as flores são brancas, exceto na rara H. rubriflora, de flores vermelhas, conforme indica o nome em latim. Os frutos todos são muito semelhantes, variam um pouco no tamanho e na cor, do marrom ao vermelho-acastanhado. Têm a forma de uma vagem alongada e 'gordinha', de casca dura. Contêm de 2 a 6 sementes, cada, e são indeiscentes, ou seja, não se abrem sozinhos para jogar longe as sementes.
Popularmente, o jatobá também é conhecido como burandã, farinheira, jataí, jutaí, jataíba, jataúba, juteí, jetaí, jutaicica, jataí-amarelo, jataí-vermelho, jatal, jati, jassaí, jatobá-de-anta, jatobá-de-porco, jatobá-capo, jatobá-de-casca-fina. De acordo com o engenheiro agronômo José Orlando de Melo Madalena, da Embrapa Cerrados, o que mais chama a atenção na composição do jatobá é a sua riqueza em minerais: "O jatobá é quase 4 vezes mais rico em potássio do que a banana e o seu teor energético é equivalente. O aroma é marcante, mas na mistura com outros ingredientes fica bastante agradável e palatável".
Os frutos utilizados pela pesquisadora da Universidade Católica de Goiás são coletados em um dos campi da Universidade, uma área verde de cerca de 52 hectares, dentro da cidade, onde está localizado o laboratório. Ali tem cerca de 30 pés de jatobá, da espécie H. stilbocarpa. Segundo Fátima, a coleta - feita por ela mesma, sempre pela manhã, bem cedinho - é fácil e rápida. "Em uma hora e meia já coletei 1.440 frutos, pesando 86 kg, de uma única árvore", conta. A bióloga não abre mão de fazer esse trabalho, pois assim ela controla a produtividade de cada pé, e ainda avalia os melhores frutos, em termos de textura, fibras e açúcar. Com sua experiência, Fátima consegue saber qual fruto está mais doce, qual tem mais farinha ou mais fibras, só de olhar. "O ideal era que todos os frutos fossem analisados num laboratório de bromatologia, mas como não dispomos dos equipamentos aqui, fazemos uma análise sensorial, mais superficial", explica.
Com a intenção de divulgar e apresentar alternativas de utilização do jatobá, a Universidade, em parceria com o Sebrae, realiza cursos, oficinas e simpósios na região. Em abril do ano passado, Fátima esteve no município de Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros, e ministrou um curso de aproveitamento dos frutos nativos do Cerrado - entre eles, o jatobá - para famílias Kalunga, ou seja, remanescentes de quilombos. "Depois de provar bolos e pães feitos com o fruto, dois adolescentes me procuraram para dizer que gostariam de aprender a fazer tudo aquilo para não mais desperdiçar o que tinham de graça na natureza", comenta a bióloga. "Eles contaram que várias famílias passam fome e que no quintal está cheio de árvores com frutos nativos, mas ninguém sabe como aproveitá-los. Isso tem de acabar". Fátima acredita que só assim, ensinando e estimulando o homem do campo a agregar valores aos frutos que tem na porta de casa, evita-se o êxodo rural e, conseqüentemente, o inchaço das metrópoles.
O governo goiano agora também demonstra interesse em enriquecer a merenda escolar das crianças utilizando o jatobá, a exemplo do que já faz a Prefeitura de Goiânia com o baru (Dipterix alata). Desde 2001, o baru substitui o coco na canjica. "A Secretária de Educação do Estado de Goiás já entrou em contato conosco, se isso realmente for implantado teremos uma merende mais barata, nutritiva e com o sabor do cerrado", afirma Fátima.
O uso do jatobá em receitas tradicionais na forma de mingau, bolo ou dissolvido no leite, já era conhecido das populações indígenas e locais. Em 1878, Alfred D'Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, descreve, no livro Narrativas Militares: "vagens de jatobá e cocos foram os alimentos exclusivos de quase 3 mil pessoas durante 8 tremendos e intermináveis dias".
O fruto também serve de alimento para os animais, principalmente os roedores. Mas a utilidade das espécies não é só alimentar. Do jatobá se tira madeira para a construção pesada, esteios, vigas, assoalhos, carrocerias e móveis. A casca fornece resina para a fabricação de vernizes. Na medicina popular aproveita-se a seiva contra tosse e bronquite; o chá da casca serve para combater problemas estomacais e para tratamento de pé-de-atleta e fungos dos pés; a resina é indicada para problemas do trato-respiratório superior e cárdio-pulmonares.
Como se não bastasse, o jatobá também pode ser utilizado na recomposição de matas degradadas. É mais uma esperança na luta diária de preservação e conservação dos recursos da natureza, capaz de ajudar a manter o homem no campo, gerando renda e conservando os diversos ecossistemas brasileiros.
Resina multiuso
A resina (seiva) de jatobá, um líquido amarelado também chamado de 'vinho', é extraída do tronco da árvore e utilizada como energético, para combater câncer de próstata e anemia. Mas sua fama está nas propriedades afrodisíacas, que lhe renderam o apelido de 'viagra' da Amazônia, segundo Kelceane Souza Azevedo, coordenador de uma pesquisa sobre manejo do jabotá, na Universidade Federal do Acre (UFAC).
Desenvolvida na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, no Sudeste do Estado, a pesquisa tem como objetivo identificar as melhores formas de produção, os impactos da extração e a qualidade do líquido, para desenvolver mais uma alternativa de diversificação na produção extrativista que sirva de modelo para outras comunidades. Na capital, Rio Branco, é comum a venda dessa resina nas casas de ervas. E alguns médicos do Centro de Saúde Pública, na periferia da cidade, também receitam o chá, feito com ela, para pacientes que se queixam de indisposição. "Eles costumam dizer que é o remédio que está ao alcance de todos na floresta e não tem custo", observa Kelceane.
A equipe da UFAC desenvolveu uma técnica para a extração da resina através de uma mangueira, que evita a retirada da casca da árvore. Assim se preserva melhor o jatobá, mesmo ampliando a produção Em seis meses, com o uso da mangueira, os seringueiros produziram 2.500 litros de 'vinho'. Por enquanto, exceto nos experimentos associados à pesquisa, a extração da resina está proibida na reserva, Os pesquisadores elaboram um cadastro para legalização do manejo, com a devida autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para que a comunidade comece a extração da resina e comercialize o produto com qualidade e segurança. Nos municípios de Xapuri e Brasiléia, 48 famílias foram cadastradas para realizar o manejo e aguardam ansiosas pela liberação, esperada para os próximos meses.
"De como, no prazo duma hora só, careci de ir me vendo escorando rifle e alvejando, em quentes, em beira de mato e campo, em virada de espigão, descendo e subindo ramal de ladeirinhas pequenas, atrás de cerca, debaixo de cocho, trepado em jatobá e pequizeiro, deitado no azul duma laje grande..." Guimarães Rosa em "Grande Sertão:Veredas", 1956
Assim como Riobaldo Tatarana, personagem principal de Guimarães Rosa, no livro "Grande Sertão: Veredas", João Benassi, 43 anos, também trepou muito em pés de jatobá, na fazenda onde nasceu em Jundiai, interior de São Paulo. Aos 6 anos de idade, bem diferente do sertanista, a intenção do moleque paulista era apenas se divertir, correr descalço pelo mato e comer a polpa do fruto que grudava no céu da boca. "Adorava comer jatobá, lembro que além dos frutos caídos no chão, gostava de apanhar os do pé. Por isso, ainda em cima da árvore, costumava balançar perto do ouvido aquela vagem dura, de cor marrom-escura. Se fizesse barulho, o fruto estava maduro, pronto para ser quebrado com alguma pedra e devorado", lembra o atual produtor rural, que chegou a cair de uma árvore dessas em cima do telhado de um galinheiro. "Não me machuquei muito, mas foi um grande susto".
As estripulias de moleque são relembradas com um brilho no olhos e contadas aos filhos debaixo das mesmas árvores, que ainda embelezam o sítio de mais de 15 alqueires. São pelo menos 20 pés de jatobá nativo. "Sou apaixonado por essas árvores. Meu pai também era. Há 20 anos ele plantou mais umas 20 na fazenda", continua Benassi. "Sempre que posso, gosto de levar meus filhos para debaixo da sombra de um jatobá. João Pedro tem 8 anos e Ana Cecília, 10. Eles ficam admirados com o tamanho das árvores e com o formato dos frutos, mas nem querem saber de comer, e olha que já tentei".
Os frutos maduros caem e apodrecem no chão. Como é um dos maiores produtores de uva rosada do Brasil, Benassi até coleta e vende uma parte deles nas centrais de distribuição de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Curitiba. Mas têm pouca saída. Na opinião do produtor, o problema é o desconhecimento da maioria dos brasileiros: "Eu mesmo não sei como aproveitá-lo sem ser in natura, e isso porque fui criado debaixo dos pés de jatobá".
Ele tem toda razão. De acordo com a bióloga Aparecida de Fátima Oliveira Bozza, coordenadora do Laboratório de Tecnologia de Alimentos da Universidade Católica de Goiás, são poucas as pessoas que conhecem o potencial alimentar e os valores nutricionais do jatobá. Desde 1994, ela pesquisa alternativas de aproveitamento dos frutos nativos do Cerrado. "Até agora já produzimos 14 alternativas alimentares: farinhas, bolachas, bolos, pães, doces, salgados, sequilhos, creme de leite, manjar, pão-de-queijo. O uso das espécies nativas pode ser uma alternativa econômica para o aproveitamento sustentado da região".
O jatobá é da família das leguminosas. São árvores grandes, com 5 a 40 metros de altura, dependendo da espécie. O gênero Hymenaea possui 14 espécies, 13 das quais se encontram distribuídas pela América Central, América do Sul e Índias Ocidentais. A outra espécie ocorre no Leste da África. No Brasil, a mais alta é o jatobá amazônico (H. courbaril) que ocorre em toda região amazônica e no Nordeste. Há outra espécie amazônica (H. parvifolia), de distribuição restrita ao baixo Amazonas. O menor jatobá é o do Cerrado (H. stigonocarpa). Já o jatobá-do-mato (H. stilbocarpa) ocorre em todo o Brasil Central, São Paulo e Mato Grosso do Sul. E existem ainda mais duas espécies na Mata Atlântica: H. altissima, que ocorre no Rio de Janeiro e São Paulo, e H. rubriflora, na Bahia e Espírito Santo.
Em todas as espécies as flores são brancas, exceto na rara H. rubriflora, de flores vermelhas, conforme indica o nome em latim. Os frutos todos são muito semelhantes, variam um pouco no tamanho e na cor, do marrom ao vermelho-acastanhado. Têm a forma de uma vagem alongada e 'gordinha', de casca dura. Contêm de 2 a 6 sementes, cada, e são indeiscentes, ou seja, não se abrem sozinhos para jogar longe as sementes.
Popularmente, o jatobá também é conhecido como burandã, farinheira, jataí, jutaí, jataíba, jataúba, juteí, jetaí, jutaicica, jataí-amarelo, jataí-vermelho, jatal, jati, jassaí, jatobá-de-anta, jatobá-de-porco, jatobá-capo, jatobá-de-casca-fina. De acordo com o engenheiro agronômo José Orlando de Melo Madalena, da Embrapa Cerrados, o que mais chama a atenção na composição do jatobá é a sua riqueza em minerais: "O jatobá é quase 4 vezes mais rico em potássio do que a banana e o seu teor energético é equivalente. O aroma é marcante, mas na mistura com outros ingredientes fica bastante agradável e palatável".
Os frutos utilizados pela pesquisadora da Universidade Católica de Goiás são coletados em um dos campi da Universidade, uma área verde de cerca de 52 hectares, dentro da cidade, onde está localizado o laboratório. Ali tem cerca de 30 pés de jatobá, da espécie H. stilbocarpa. Segundo Fátima, a coleta - feita por ela mesma, sempre pela manhã, bem cedinho - é fácil e rápida. "Em uma hora e meia já coletei 1.440 frutos, pesando 86 kg, de uma única árvore", conta. A bióloga não abre mão de fazer esse trabalho, pois assim ela controla a produtividade de cada pé, e ainda avalia os melhores frutos, em termos de textura, fibras e açúcar. Com sua experiência, Fátima consegue saber qual fruto está mais doce, qual tem mais farinha ou mais fibras, só de olhar. "O ideal era que todos os frutos fossem analisados num laboratório de bromatologia, mas como não dispomos dos equipamentos aqui, fazemos uma análise sensorial, mais superficial", explica.
Com a intenção de divulgar e apresentar alternativas de utilização do jatobá, a Universidade, em parceria com o Sebrae, realiza cursos, oficinas e simpósios na região. Em abril do ano passado, Fátima esteve no município de Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros, e ministrou um curso de aproveitamento dos frutos nativos do Cerrado - entre eles, o jatobá - para famílias Kalunga, ou seja, remanescentes de quilombos. "Depois de provar bolos e pães feitos com o fruto, dois adolescentes me procuraram para dizer que gostariam de aprender a fazer tudo aquilo para não mais desperdiçar o que tinham de graça na natureza", comenta a bióloga. "Eles contaram que várias famílias passam fome e que no quintal está cheio de árvores com frutos nativos, mas ninguém sabe como aproveitá-los. Isso tem de acabar". Fátima acredita que só assim, ensinando e estimulando o homem do campo a agregar valores aos frutos que tem na porta de casa, evita-se o êxodo rural e, conseqüentemente, o inchaço das metrópoles.
O governo goiano agora também demonstra interesse em enriquecer a merenda escolar das crianças utilizando o jatobá, a exemplo do que já faz a Prefeitura de Goiânia com o baru (Dipterix alata). Desde 2001, o baru substitui o coco na canjica. "A Secretária de Educação do Estado de Goiás já entrou em contato conosco, se isso realmente for implantado teremos uma merende mais barata, nutritiva e com o sabor do cerrado", afirma Fátima.
O uso do jatobá em receitas tradicionais na forma de mingau, bolo ou dissolvido no leite, já era conhecido das populações indígenas e locais. Em 1878, Alfred D'Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, descreve, no livro Narrativas Militares: "vagens de jatobá e cocos foram os alimentos exclusivos de quase 3 mil pessoas durante 8 tremendos e intermináveis dias".
O fruto também serve de alimento para os animais, principalmente os roedores. Mas a utilidade das espécies não é só alimentar. Do jatobá se tira madeira para a construção pesada, esteios, vigas, assoalhos, carrocerias e móveis. A casca fornece resina para a fabricação de vernizes. Na medicina popular aproveita-se a seiva contra tosse e bronquite; o chá da casca serve para combater problemas estomacais e para tratamento de pé-de-atleta e fungos dos pés; a resina é indicada para problemas do trato-respiratório superior e cárdio-pulmonares.
Como se não bastasse, o jatobá também pode ser utilizado na recomposição de matas degradadas. É mais uma esperança na luta diária de preservação e conservação dos recursos da natureza, capaz de ajudar a manter o homem no campo, gerando renda e conservando os diversos ecossistemas brasileiros.
Resina multiuso
A resina (seiva) de jatobá, um líquido amarelado também chamado de 'vinho', é extraída do tronco da árvore e utilizada como energético, para combater câncer de próstata e anemia. Mas sua fama está nas propriedades afrodisíacas, que lhe renderam o apelido de 'viagra' da Amazônia, segundo Kelceane Souza Azevedo, coordenador de uma pesquisa sobre manejo do jabotá, na Universidade Federal do Acre (UFAC).
Desenvolvida na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, no Sudeste do Estado, a pesquisa tem como objetivo identificar as melhores formas de produção, os impactos da extração e a qualidade do líquido, para desenvolver mais uma alternativa de diversificação na produção extrativista que sirva de modelo para outras comunidades. Na capital, Rio Branco, é comum a venda dessa resina nas casas de ervas. E alguns médicos do Centro de Saúde Pública, na periferia da cidade, também receitam o chá, feito com ela, para pacientes que se queixam de indisposição. "Eles costumam dizer que é o remédio que está ao alcance de todos na floresta e não tem custo", observa Kelceane.
A equipe da UFAC desenvolveu uma técnica para a extração da resina através de uma mangueira, que evita a retirada da casca da árvore. Assim se preserva melhor o jatobá, mesmo ampliando a produção Em seis meses, com o uso da mangueira, os seringueiros produziram 2.500 litros de 'vinho'. Por enquanto, exceto nos experimentos associados à pesquisa, a extração da resina está proibida na reserva, Os pesquisadores elaboram um cadastro para legalização do manejo, com a devida autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para que a comunidade comece a extração da resina e comercialize o produto com qualidade e segurança. Nos municípios de Xapuri e Brasiléia, 48 famílias foram cadastradas para realizar o manejo e aguardam ansiosas pela liberação, esperada para os próximos meses.
Fonte: revista Terra da Gente, edição nº 33, janeiro de 2007, páginas 62-67
Texto de Graciela Andrade
encontrei a seiva de jatoba nessa loja virtual. produto muito bom.
ResponderExcluirhttp://www.produtosdaamazonia.store/produto/243748/seiva-de-jatoba-200ml